Foi, nos anos quarenta, uma figura carismática, não só pelo seu perfil, como ainda pela incumbência bi-diária que tinha em prol da comunidade desta aldeia.
Sem nada que lhe protegesse os pés, a Glória calcorreava vários quilómetros por dia, já que lhe fora cofiado o transporte da mala do correio que chegava pela manhã à estação do caminho de ferro e, ao cair da tarde, havia o retorno, agora de correspondência expedida.
Auxiliada e protegida pela sua irmã Ernestina, com que dividia a cama e as refeições, a Glória teve uma aventura, que durou alguns anos, com um tal Zé Cabete, originário de uma terra vizinha.
A fidelidade da Glória ao seu amante, contrastava com alguma severidade deste, nalgumas ocasiões em que a desigualdade era imposta.
Sem saber ler nem escrever, a Glória foi uma mulher responsável no trabalho de que estava incumbida, somente a troco de algumas moedas.
Texto extraído do livro "Outros Tempos" de Helder Monteiro
