Antes do dia começar a despontar, o Zé Panê iniciava a sua caminhada diária até ao seu local de trabalho. Sem profissão definida, ganhava o seu sustento numa exploração agrícola.
O trabalho de sol a sol era o seu refúgio, já que a intimidade com pessoas extra-família tornava-se difícil, também porque o Zé pouco fazia para ultrapassar essa barreira e também porque, verdade seja dita, havia algum escárnio e maldizer nalgumas frases que lhe eram dirigidas. Daí o choque de mentalidades.
Solteiro e sem esperança de constituir família, o Zé Panê - e isso era sabido - padecia de uma ligeira deficiência mental que, contudo, não o impedia nem lhe retirava a vontade de trabalhar.
Viveu grande parte da sua vida com uma irmã, mas nunca conseguiu integrar-se na sociedade.
Texto extraído do livro "Outros Tempos" de Helder Monteiro
